Não existe empatia onde existe uma arma




Temos visto um debate caloroso sobre a facilitação de acesso às armas. Debate caloroso e necessário. Entendo perfeitamente o desespero da população, que se vê acuada pela violência desesperado que vivenciamos, violência esta que nos rouba, além da vida e do patrimônio, a tranquilidade para vivenciar momentos, nossa liberdade. Entendo também a crença na miragem de que possuir uma arma seja uma solução desesperada a essa situação.

Apesar de entender, não há como considerar que possuir uma arma possa, de alguma forma, significar mais paz. Seria como admitir que a paz se conquista com medo, sendo o medo a maior causa da violência. No medo está a semente da desigualdade, da fragilidade. Existem, é claro, medos necessários. Mas existem muitos medos que devem ser abandonados, como o medo do outro, do diferente. Estes medos formam a base para a intolerância, a falta de amor, para o ódio. Assim, com medo, não é possível construir diálogo. E sem diálogo, não existe reconhecimento das demandas do outro, fato que constrói grande parte das injustiças e desigualdades que ocorrem em nosso país e no mundo.

Existem pessoas e empresas que se utilizam desse medo, dessa falta de conexão entre mundos, para construir poder e fortuna. Existe uma grande indústria da morte, empresas e pessoas cuja principal função no mundo é semear o medo, a dor, a angústia, tudo para gerar mais necessidade de muros que nos separem, de blindagens, de armas para nos matarmos.

Dessa forma, o Projeto Empatizar não pode ver a facilitação do acesso às armas como progresso, mas como um passo atrás, no sentido da barbárie e um afastamento da civilidade, do mundo pelo qual lutamos todos os dias. A empatia é, desde antes do homo sapiens, a cola social que nos mantém unidos, uma das forças motrizes da evolução, pois sem ela, seríamos incapazes de nos reconhecermos como uma raça única. A empatia fornece a identificação com as emoções do outro, seja esse outro humano ou não, e, com isso, possibilita sermos melhores, sermos um pouco mais divinos.

Um fato ocorrido com um amigo ilustra isso. Esse amigo foi abordado, assaltado e agredido em Ipanema, no Rio. Isso ocorreu em uma praça movimentada e ninguém fez absolutamente nada. Se ele tivesse uma arma, pela surpresa da abordagem, teria perdido a arma para os criminosos. Mas se algumas pessoas resolvessem ajudar, ele teria saído ileso. Só que ninguém socorreu!

Onde existe uma arma, só existe espaço para o medo, que é o antônimo de empatia. Empatia significa ter menos medos. Nossa maior arma contra a violência é alimentarmos nosso espírito de coletividade, nos aproximarmos mais e sermos solidários com as pessoas com as quais cruzamos diariamente em nossos caminhos solitários.

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